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sexta-feira, 15 de junho de 2012


“Países em desenvolvimento podem evitar erros dos desenvolvidos”, diz presidente do Comitê Econômico e Social Europeu

Em entrevista à Carta Maior durante a Rio+20, o finlandês Staffan Nilsson, presidente do Comitê Econômico e Social Europeu (EESC, na sigla em inglês), organismo vinculado à União Europeia, disse que os países ricos devem assumir mais os custos da crise ambiental. Ele defendeu, porém, que os os emergentes absorvam as inovações de "tecnologia verde" já existentes, para evitar erros do passado. "Todos devemos agir juntos", afirmou.

Rio de Janeiro - Estabelecido em 1958, o Comitê Econômico e Social Europeu (EESC, na sigla em inglês), organismo vinculado à União Europeia, vem discutindo sistematicamente as questões relacionadas à Rio+20 (Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável), que começou dia 13 e vai até 22 de junho. 

O finlandês Staffan Nilsson, seu presidente, está otimista quanto aos resultados da cúpula. Ele acredita que o peso da sociedade civil no evento pode forçar um bom acordo sobre o enfrentamento à crise ambiental. 

Embora faça um apelo para que todos – países em desenvolvimento e desenvolvidos – ajam juntos, Nilsson – que participa de um encontro da Associação Internacional de Conselhos Econômicos e Sociais e Instituições Similares – admite que os últimos devem assumir a maior parte da responsabilidade e aconselha as nações emergentes a aprenderem com os erros históricos dos países ricos. 

“Todo mundo deveria contribuir o máximo possível. Mas claro que os ricos podem atuar de um modo diferente, assumir mais do custo”, diz ele, que, além de antigo colaborador do EESC, é produtor rural em seu país. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Carta Maior - Qual é sua expectativa para a Rio+20?
Staffan Nilsson - Existe algum compromisso, um roteiro a ser seguido. Os países realmente querem chegar a um acordo razoável sobre desenvolvimento sustentável.

CM - Mas, levando-se em conta os diferentes pontos de vista existentes, o senhor vê possibilidade de esse acordo sair?
SN - Se você puser todos os países do mundo juntos, sempre haverá diferenças. A solução é se comprometer, tentar se entender. Você não pode apenas expressar sua posição, você tem que entender a posição dos outros. E, como os negociadores estão se agrupando em blocos, acho que ainda é preciso haver um forte progresso, é preciso acelerar o processo para que, quando comece a conferência dos chefes de Estado [de 20 a 22 de junho], tenham poucas questões pendentes a solucionar. Deve-se solucionar o máximo possível de questões antes que cheguem os chefes de Estado. Mas eu quero ser otimista. Fiquei feliz que a União Europeia vem tentando desempenhar um papel muito forte e que tem falado em uma só voz. Eu espero que nossos parceiros no mundo, os grandes atores como a China e o Brasil, também desempenhem um forte papel. Nós focamos em quatro áreas principais. A principal preocupação é o desenvolvimento. Você sabe que no Brasil ainda é preciso tirar pessoas da pobreza. O segundo ponto é que queremos um acordo sobre direitos trabalhistas, trabalho decente e segurança. Terceiro: queremos um roteiro sobre uma economia verde. Precisamos ter um desenvolvimento econômico que não tenha apenas o PIB [Produto Interno Bruto] como indicador. O último ponto é o envolvimento da sociedade civil, porque há atores na base. Precisamos de todas as pessoas para forçar a execução desses acordos. Acho que as organizações da sociedade civil podem desempenhar um papel crucial apoiando as boas decisões políticas na Rio+20, pois os políticos normalmente querem ser reeleitos. Se sair um acordo, o EESC quer apoiar os líderes políticos que o firmarem. 

CM - Então o senhor acha que a sociedade civil tem o poder de fazer os líderes executarem as políticas que ela quer?
SN - Acho que temos sim. Se agirmos juntos, se ouvirmos os diferentes atores da sociedade civil. Pode haver diferentes mensagens, mas existem milhares de pessoas que querem que tenhamos um bom resultado, que assegure um desenvolvimento sustentável para o futuro. E precisamos disso. Haverá custos, mas será muito mais barato prevenir do que pagar quando houver uma catástrofe natural. Veja o que vem acontecendo com os países que estão sendo inundados pela água do mar.

CM - Alguns setores da sociedade civil criticam a economia verde. Dizem que é uma maneira mais de se lucrar com a crise climática. O que o senhor acha disso? 
SN - Não acho que a economia verde em si proteja algum país rico em particular. No campo dos negócios, alguns já estão agindo. Não esperam a legislação. Acredito que precisamos de atores da sociedade civil e dos negócios... mas é claro que são necessários acordos sobre uma legislação que regule isso. Porque todos podem contribuir. Claro que entendo que os países em desenvolvimento têm que ter responsabilidades diferentes dos desenvolvidos, mas temos que agir juntos. 

CM - Então o senhor concorda com o ponto de vista dos países emergentes de que as nações ricas devem assumir maior responsabilidade em relação à crise ambiental?
SN - Todo mundo deveria contribuir o máximo possível. Mas claro que os ricos podem atuar de um modo diferente, assumir mais do custo. Por outro lado, as possibilidades em inovação, em tecnologia verde, já estão lá. Os países em desenvolvimento podem evitar os erros cometidos pelos desenvolvidos. Erros que poderiam ter sido evitados com o conhecimento que temos hoje. Mas é claro que os pobres têm que sair da pobreza. 

CM - Os países em desenvolvimento argumentam que os países ricos devem mudar seus padrões de consumo e produção. 
SN - Devemos. Falamos de produção sustentável, consumo sustentável. Uma ferramenta que poderia ser usada muito mais, tanto para os serviços quanto para os produtos, é a pegada ecológica. Observar um produto do começo até o fim e definir qual é sua pegada ecológica... onde você pode economizar recursos. É a melhor maneira de comparar um produto com outro. 
Fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=20344

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